Resumo
O presente trabalho se articula como relato de uma experiência docente no âmbito da Oficina literária na Escola de Adultos Nº 701 da Unidade Penal Nº 1, Lisandro Olmos, La Plata (província de Buenos Aires, Argentina) e como instância possível para pensar a relação com a linguagem das pessoas privadas de liberdade. Uma das ferramentas propostas foi a criação de um dicionário, como exercício de reflexão e prática da escrita que permitisse subverter a ideia da língua como um sistema fechado, estabilizado pela norma e pela história — para convertê-lo em uma constelação aberta e associada à própria experiência. São os alunos que estabelecem as entradas do dicionário e escrevem as definições. Esse exercício permite refletir sobre os processos complexos de produção de significado e também, em um nível específico, sobre as distintas formas de definição. Mas, sobretudo, a partir destas pautas, a gestão do dicionário transforma alunos em produtores da linguagem por meio de seleção e inclusão de termos e, então, em participantes ativos das redes de sentido. O dicionário em processo revela as negociações permanentes com a autoridade da letra, tal como aparece corporizada nos dicionários da língua espanhola e se revela como uma forma de história das palavras que são, por sua vez, um relato biográfico e social, atravessado pela articulação indissociável entre linguagem e experiência.
"Esperando que um mar seja desenterrado pela linguagem, alguém canta no lugar em que se forma o silêncio. Logo comprovará que não por estar furioso que existe o mar, nem tampouco o mundo. Por isso cada palavra diz o que diz, além de mais e outra coisa."